(continuação da edição anterior)
Portanto, isto colide com o pensamento religioso, particularmente o católico. Porque o sentido religioso da vida é religar-se com o Criador da vida e do mundo. Não sou eu que vou dizer o que é ou o que são o homem e o mundo. É Deus quem mo diz; é Ele que, tocando na minha miséria, me faz ver o mundo como um lugar de todos e para todos, me faz ver a vida como espaço de doação aos outros e que me faz sentir, de forma positiva, parte integrante e activa na história da humanidade.
Assim compreendemos que, para a vida, levamos a vida que vivemos. A vida como eu a penso e a vida como eu a desejo repercute-se no viver quotidiano da minha dimensão social e relacional. Precisamos, porém, de tomar consciência destas nossas tendências narcisistas e hedonistas, desta nova ideologia do “new age” e desta nova ordem mundial. Isto traz consigo – quer queiramos, quer não – uma grande luta interior, uma grande batalha para lutarmos contra este novo paradigma. Não nos esqueçamos que o grande inimigo está dentro de nós mesmos: está no meu próprio ‘eu’, onde Satanás se manifesta e nos coloca como um ‘cão com coleira’, nos põe a rastejar e a comer o pó da terra, impedindo-nos de sermos “homo erectus”, homens com cabeça erguida e livres da escravidão do meu ‘eu’ graças ao amor gratuito e salvífico de Deus.
Termino com uma estória que pude ler recentemente e que achei oportuna para esta temática. Trata-se de comparar o Amor de Deus à água a ferver. O autor mostra como três coisas podem alterar no contacto com a água a ferver. Quais são essas três coisas? São elas: um ovo, uma cenoura e o pó de café. No contacto com a água a ferver o ovo endurece, a cenoura, que era dura, amolece e o pó de café deixa-se misturar com a água e torna-se numa bebida deliciosa e fabulosa. Então qual é a conclusão da estória? Compreende-se, pois, que o nosso coração pode assumir uma das três reacções (ou até as três em simultâneo) quando confrontado e envolvido no amor de Deus: ou ficar duro e insensível como o ovo, ou fica mole e frouxo como a cenoura, ou deixar-me envolver e, envolvido, misturar-me e mesclar-me com esta água a fim de me tornar uma delícia e uma doçura como pessoa e como ser humano. Façamos estas perguntas: qual dos três eu sou? Que vida é a vida que eu levo?
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