o olhar de perto a vida e a história de Natanael – que depois viria a ter o nome de Bartolomeu (Santo e Apóstolo) – e a forma como Jesus o chama (ver atentamente o Evangelho de São João, capítulo 1, versículos 45-51), fez-me compreender que é sempre Deus que se dirige, em primeiríssimo lugar, a nós, desinstalando-nos da mediocridade das nossas existências e revelando-nos o que realmente somos e estamos destinados a ser. Por outras palavras, Deus olha-me, vê-me. Isto é perturbador! Vejam, Deus vai ao ponto de se diminuir para se tornar um par entre nós, um connosco e um para nós. Ele desce e vai em busca e ao encontro do homem perdido em si mesmo. Deus vem matar o egoísta, o pavão que há dentro de mim e dentro de cada um de nós. Na verdade, este é um princípio vital da espiritualidade cristã, em contrapartida à espiritualidade pagã e desta “new age”. Segundo esta espiritualidade, é o homem que tem de ir ao encontro de Deus, como que às apalpadelas, para depois formar uma ‘crença’. Ao inverso, nós, católicos, somos, primeiramente, tocados por Deus e por isso nos é dado o dom da Fé. Como é belo isto! Ele que me escolheu é também aquele que me salvou e, continuamente, me salva. É também Aquele que me re-modela como se fosse novamente o barro do início da criação, como se voltasse ao lugar do Adão e da Eva, como se fosse o fruto das suas entranhas. Que visão tão doce e tão bela Deus tem de nós e para nós! Quem dera que todos nós nos pudéssemos envolver nesta visão de inenarrável amor.
É importante dizer que na nova ordem mundial, nesta “new age”, profunda e intimamente, laicista, quer relegar a religiosidade para a intimidade do homem, para a vida privada da pessoa humana e, pior, tornar a experiência do sagrado como uma experiência excessivamente sensorial e subjectiva. Numa linguagem futebolística, esta nova ideologia pretende colocar Deus no banco de suplentes, colocando-O à margem do protagonismo da Vida, da História e do Homem.
Segundo o teólogo e bispo, D. José Ignacio Munilla Aguirre (bispo de San Sebastián, Espanha) esta nova ideologia não é outra coisa que não uma miscelânea entre neo-marxismo e um neo-liberalismo. Mas que cultura dominante é esta? É a cultura da ideologia do desejo e de liberalidade sem reservas. Por outras palavras, é o homem que se auto-define, que quer criar um “deus” configurado a partir das suas próprias categorias de auto-satisfação e auto-referencialidade, ou seja, de um homem focado sobre si e em si mesmo, amarrado aos ‘eus’ do seu próprio ‘eu’, amuralhado no seu próprio orgulho e na arrogância do seu próprio ‘eu’. Aqui não há lugar para o outro, para a alteridade, para a doação e para a solidariedade.
(continua na próxima edição)
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