É com este ditado popular que quero começar esta reflexão. Foi com imensa surpresa e agrado que conheci este ditado/adágio popular. Numa das minhas visitas aos idosos e mais frágeis da minha comunidade orante e paroquial, um senhor, um homem de coração grande e grande na sapiência inquietou-me (e perturbou-me, até!) com esta expressão: “onde tens os teus pés, aí tens a tua cabeça”.
O que significa este adágio? Este ditado/adágio é um bom exemplo daquilo que, tantas vezes, brota do nosso coração. Por outras palavras, se os teus pés estão sob a passadeira vermelha, então o teu coração está nas honras e famas do mundo e do homem; ou, se os teus pés estão sob o chão pobre e simples, então o teu coração está junto dos mais pobres e simples. Confesso que esta simples expressão me tem feito pensar e reflectir muito sobre o que tenho sob os meus pés.
Gostaria que cada um de nós pudesse fazer esta mesma pergunta a si mesmo. Não sei quais serão as respostas que brotarão dos nossos corações, mas estou certo que seremos verdadeiramente inquietados, ao ponto de nos questionarmos sobre quais os chãos que nós buscamos conforto e assentamento.
Esta pergunta não nos deixará indiferentes e estou certo que lançará em cada um de nós o desejo maior de melhor nos conhecermos. Estou convicto que, no momento em que nos perguntarmos a nós próprios se nos amamos e se amamos alguém, muito mudará em nós, quer na nossa forma de ser e de estar, quer na nossa forma de ver a vida e o mundo. Façamos sem rodeios e sem medos este desafio. Tínhamo-lo como uma meta e uma missão, e saberemos dar reposta ao chão que pisamos. Dalai Lama, questionado sobre quem era o inimigo, respondeu: “eu mesmo! A minha ignorância, o meu apego, os meus ódios! Aí está realmente o inimigo!”
Eis uma excelente reflexão para muitos que se possam encontrar em férias (ou que possam estar em breve de férias). Percorrer os caminhos de uma séria reflexão interior que nos ajude a compreender, saber e identificar quais são os nossos mais íntimos desejos, vontades e sonhos. Deus apela-nos a que saibamos fazer da vida amor: amor que d’Ele recebemos e, recebido d’Ele, partilhar com os irmãos e irmãs que nos rodeiam.
Termino com a belíssima e inquietante afirmação de Khalil Gibran: “E disse o Divino: ‘‘Ama o teu inimigo!’’ E eu o obedeci e amei-me a mim mesmo!” Sim, o maior inimigo de nós próprios somos tantas vezes nós mesmos. Deus quer matar o egoísta que há em nós, que em nós habita e que muitas vezes nos domina e nos condiciona. É este milagre que Deus quer operar em nós: matar o egoísta que há em nós e, pelo sacramento da confissão, possamos caminhar no caminho da santidade. Também nós podemos receber este dom da santidade pelo sacramento da reconciliação e, recebidos, caminhar pelo caminho da santidade, do altruísmo, da bondade e da misericórdia.



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