Estes tempos que antecedem o Natal do Senhor são de uma beleza e de uma cor inconfundíveis e, até, contagiantes. Porém, fruto das crises emergentes, vivemos na sombra de uma incerteza que nos abala e nos perturba. O medo e a incerteza instalam-se, ao ponto de suscitar no nosso coração um sentimento de desanimo e de desespero. O futuro deixa de ter a marca do amor e, por isso, deixa de ter e de haver esperança.
Aliás, é a esperança que projecta o futuro, pois se nos roubam a esperança, tiram-nos o futuro. Não é fácil falar de esperança para um coração materialista, para alguém que está profundamente marcado pela identidade efémera do ter em detrimento do ser e que se avalia pelo que tem e pelo o que pode ter ainda mais. Quando o critério é o ter ou o que pode vir a ter, então o princípio do altruísmo e da generosidade fraterna tornam-se incompreendidos ou tidos como um sinal de fraqueza no que ao carácter e à identidade dizem respeito.
Nesta ordem de pensamento, nunca o Natal do Senhor Jesus, do Deus-Menino, continua, se tornou tão necessário e tão libertador. O cenário, o momento e a forma como o Deus-Menino escolhe para nascer e para ser acolhido no mundo revela-nos o mistério escondido ao coração materialista. É na maior simplicidade e pobreza que o que é mais e verdadeiramente valioso se revela. Basta ver como os gestos mais simples de altruísmo e de caridade nos revelam o melhor que há em cada um de nós. Um tesouro, um diamante bruto à espera de ser polido e esculpido a fim de ser muito mais do que é, de ser presença que encanta e inebria.
De forma tão paradoxal e desassossegadora, o Presépio é lugar da Esperança. No ‘sim’ de Maria e de José, toda a humanidade retifica o seu sim ao sim de Deus. Neles reconfirmamos aliança de Deus com o seu povo que se expressa no Corpo Místico de Cristo que é a Santa Igreja. No entanto, perguntamo-nos como é que o meu ‘sim’ pode ser ‘sim com Deus’? Como o meu ‘sim’ ao ‘sim de Deus’ é gerador e confirmador da Esperança?
A resposta, aparentemente, até é simples: é pela conversão. Qual conversão? A conversão do meu eu ao eu de Deus. Este processo é de tal maneira transformador que faz com que eu, sem me dar muito conta disso, me vá configurando, paulatina e gradualmente, ao modo de ser e de estar de Deus. Esta mudança gera uma relação que vincula e que regenera. Uma pertença que é libertadora e promotora de uma vida bem melhor. O meu ‘sim’ ao ‘sim de Deus’ faz-me descobrir como o amanhã é um horizonte que confirma que eu sou muito mais do que podia pensar ou imaginar. O amor desvela um futuro onde a esperança não desvanece, onde o amor confirma e a fé envolve.
Que seja para nós, neste tempo de Natal, um desafio dizer ‘sim ao sim de Deus’. Não deixeis – nem deixemos – que nos roubem o futuro, tirando-nos a Esperança
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