A quem serves tu? A esta pergunta certamente responderemos que servimos a nós mesmos ou a quem nos é importante. Sim, é verdade. Todavia, esta pergunta é bem mais profunda do que julgamos pensar. Aliás, ela não quer outra coisa que não fazer-nos infletir, fazer-nos perguntar no mais íntimo de mim mesmo quem é o senhor da minha existência.

Julgo que deveríamos reflectir bem mais sobre nós mesmos e sobre quem são os fundamentos, os intentos e as motivações que norteiam e regem as nossas vidas e as vidas de cada um de nós.

O tempo que nos é dado viver, é um tempo onde proliferam inúmeras ideologias – umas mais visíveis que outras – e onde o “politicamente correcto” parece ser o pêndulo da verdade e da mentira, do aceitável e do inadmissível. Pode parecer algo dramático – ou até cáustico – afirmar que o dito “politicamente correcto” intervém activa e negativamente no pensar e no agir do fiel crente. No entanto, pode ser uma oportunidade irrepetível para afirmar a identidade única e singular da Igreja Católica e do Cristianismo, em geral. O tempo de hoje exige-nos.

O Cristianismo vive desta convicção de que Jesus é a Verdade e que, como discípulos de Cristo, sejamos curados na Verdade, isto é, sejam anunciados em todos os cantos e lugares a Boa Nova que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Se partirmos da ideia incutida pelo “politicamente correcto” de que todas as religiões são iguais e que cada pessoa tem a sua própria religião e, portanto, ninguém deve “incomodar” ninguém, então – pergunto – o que foram os Apóstolos, os missionários? Paulo, quando anunciou à Europa o Evangelho, levou, juntamente com os demais Apóstolos, o anúncio da Boa Nova do Reino de Deus, da bondade infinita e da misericordiosa de Deus.

Parece que nos deixamos aburguesar, tonamo-nos acomodados, incapazes de “incomodar”. O Evangelho incomoda, e muito! Se não incomodar, não é de Deus. Mas como incomoda? Incomoda porque mexe na nossa consciência, revela os nossos próprios pecados e caminhos erráticos em que tantas vezes nos afundámos, e manifesta o senhor ou os senhores a quem ‘escravamente’ servimos. O homem moderno, no seu indiferentismo religioso, quer um Jesus – ou um Deus (!) – que sirva o homem e que responda aos seus desejos egoístas ou outras ‘agendas’ ideológicas.

Na verdade, o verdadeiro Jesus incomoda. Ele impele, desde dentro, a que iniciemos uma mudança efectiva da nossa vida, a que nos convertamos, a que passemos das trevas à luz, do erro à verdade. Tocados por este Deus de Amor, somos convidados a desinstalarmo-nos e a fazer caminho em direcção à Verdade e ao Bem. Aqui chegados, tornamo-nos pedra de tropeço para muitos e incómodo para outros. Aliás, precisamos de incomodar! Precisamos de sermos homens que incomodam e escandalizam num mundo cada vez mais egoísta, violento, materialista, narcisista e hedonista para revelar os valores primários do Catolicismo, ou seja, a alteridade, o bem comum, a caridade e a partilha, a oblatividade do amor e a esperança doativa que brota no único Deus verdadeiro, fonte inefável de amor e misericórdia. Por isso, temos de ser ousados! Temos que levar as pessoas a Jesus. Já nos perguntamos: quem nós levamos? Quem convertemos? Que evangelizadores nós somos?

O espírito da “tolerância”1 e no “politicamente correcto” desta cultura e ideologia dominante, tornou-nos indiferentes, acomodados e aburguesados. Vejamos o inumerável número de mártires que, por tanto incomodar, não se deixaram aburguesar ou acomodar pelo espírito do mundo e das coisas do mundo. Com efeito, temos que ser mais audazes, mais sagazes, mais proactivos no sentido de convidar mais pessoas a que conheçam Jesus e a sua Igreja, Igreja Católica. Necessitamos de tirar os tampões dos ouvidos que nos acomodam para que, mudados, possamos mudar os demais e sermos voz da Palavra que incomoda e que liberta. Tantas são as formas em que podemos ajudar o outro a ter uma experiência de encontro com o verdadeiro e único Deus. Saibamos ser mais solícitos à voz do Espírito Santo e possamos reiterar a pergunta essencial: a quem serves tu?

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